Rômulo Gusmão, 29 anos, é um exemplo de como o basquete pode mudar vidas. Começou no Centro de Iniciação Desportiva de Samambaia em 2008, onde os treinos eram feitos na escola classe 308 e no CEM 304. A trajetória não foi fácil, com dificuldades de infraestrutura e muitos desafios pessoais, mas a paixão pelo esporte e o apoio da comunidade o levaram longe.
“Para mim, o basquete sempre foi uma forma de me manter longe das ruas, de viver algo positivo com os amigos”, diz Rômulo. Hoje, ele brilha na liga de basquete da Argentina, um sonho que começou com a diversão de jogar nas quadras da cidade satélite. Ele sempre foi grato ao apoio da família e de figuras como o professor Evandro e professoras como Rosângela e Martha, que o ajudaram em momentos decisivos.
“Eu sempre busquei aproveitar o que o basquete me oferecia. Para chegar onde estou hoje, tive que focar, me dedicar 100% e não deixar as oportunidades passarem”, conta. A cultura do basquete na Argentina, mais coletiva e dinâmica, foi um divisor de águas em sua carreira.
Rômulo representa Samambaia e o Brasil em alto nível, com planos de um dia voltar para ajudar a desenvolver o esporte na sua cidade, como já faz seu amigo Edilton. “O basquete me ajudou a ser uma pessoa melhor, e quero retribuir isso aos jovens que sonham em seguir os mesmos passos.” E, com certeza, ele inspira muitos a acreditar que, de Samambaia para o mundo, a quadra pode ser o começo de grandes conquistas.
Veja a entrevista completa:
- Como foi sua primeira experiência jogando basquete em Samambaia? Tem alguma lembrança marcante dessa época?
Minha primeira experiência jogando basquete começou em samambaia, comecei no CID (centro de iniciação desportiva) do professor Evandro, no ano de 2008. Na época os treinos eram na escola classe 308 e no CEM 304. Então muitas lembranças boas eu tenho dessa época, principalmente os treinos com os amigos, o clima que tinha durante os treinamentos, as viagens que fazíamos na kombi do professor pra ir pros jogos e principalmente as amizades que fiz nessa época que muitas delas ainda tenho até os dias de hoje. Pra mim isso é algo que sempre vai me marcar dessa época.
2. Você se lembra do momento em que percebeu que tinha um talento especial para o basquete? O que mudou na sua vida a partir disso?
A princípio o basquete era diversão, ficar longe das ruas, jogar basquete com os amigos. Eu já tinha uma altura boa na época que comecei ali com 12/13 anos, então isso meio que ajudou ali no começo. A ideia de jogar profissionalmente era algo que parecia muito distante, ainda mais por jogar em samambaia sem muita perspectiva de profissionalização. Mas ali pelos 17 anos após jogar pela seleção de Brasília no campeonato brasileiro, conheci pessoas que me ajudaram a entender e a conhecer esse lado profissional do esporte, então a partir dessas época vi que poderia ter uma real chance de jogar profissionalmente. O que mudou depois disso foi olhar o basquete como profissão, a dedicação e os treinos começaram a ser focados na realização desse sonho e a partir desse momento minha vida foi dedicada quase que exclusivamente ao basquete.
3. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou no início da sua carreira, especialmente jogando em Samambaia?
Os maiores desafios no início da carreira acho que a infraestrutura que tínhamos, no CID o professor Evandro fazia milagre com os matérias que tinha, era ele sozinho para cuidar de muitos jovens, então a falta de investimento no esporte na época era algo que as vezes dificultava a prática. Mas mesmo com tudo isso a dedicação do Evandro me ajudou e a muitos jovens na época e até hoje continua ajudando. Depois da época de samambaia quando fui pro Uniceub, as dificuldades muitas vezes eram a distância para treinar, passava praticamente todo o dia na asa sul, chegava em casa tarde da noite. E conciliar isso com a escola e depois a faculdade era um desafio que ali quando estava na transição da base pro profissional tive que escolher entre me dedicar 100% e deixar a faculdade ou continuar nessa correria, aí 6 meses antes de ir pra Argentina a primeira vez eu tranquei minha faculdade pra me dedicar ao basquete.
4. Como a sua família e a comunidade de Samambaia apoiaram você nessa jornada? Tem alguma história que você gostaria de compartilhar?
A minha família sempre me apoiou, da maneira deles, pois não tinha nenhum atleta na família então era algo novo, eles queriam que eu terminasse a escola e depois o esporte seria algo que ajudaria na formação do caráter e quando as coisas foram indo pro lado profissional eles me apoiaram sempre que precisei.
Eu lembro de 2 histórias de 2 professoras que me ajudaram no começo da carreira, lembro que no CEM 304 na época a Rosângela acho que era diretora ou vice diretora. Eu tinha acabado de entrar no sub22 do UniCeub e acabei torcendo feio o pé em um treino, e depois precisava de um par de tornozeleiras que na época era específicas para jogadores então eram mais caras e eu lembro que ela um dia me perguntou se eu precisa de algo, acabei comentando dessa tornozeleira e depois de uns dias ela me comprou pra mim, lembro que usei por muitos anos e foi algo que me marcou bastante. A outra professora foi Martha do CEF 312, eu tinha entrado no sub22 do Uniceub e precisava muito entrar na academia para melhorar fisicamente para aguentar jogar com jogadores mais velhos que eu, então uma vez fui ao 312 e conversando ela me pergunta se eu precisava de alguma coisa e eu falei que no momento precisava entrar na academia mas não estava com condições na época, ela acabou dizendo que iria me ajudar e por quase 1 ano ela custeou uma academia que havia na 318. Então essas 2 histórias me marcaram bastante.
5. O que você acha que falta para o basquete em Samambaia e no DF se desenvolver ainda mais? Como você enxerga o cenário atual do esporte na sua cidade?
Acho que o basquete em samambaia precisa de mais investimento e uma ajuda principalmente do governo, faltam quadras adequadas para a prática do esporte, as poucas quadras que tem tabelas de basquete a situação está precária. Muitas dessas quadras quem acaba cuidando e fazendo algo são os próprios atletas e a população que precisam se mobilizar para que tenha a prática do basquete. Então com mais investimento principalmente nos projetos sociais, o basquete pode alcançar mais jovens. O cenário atual do basquete em Brasília eu vejo bem encaminhado em questão de campeonatos, hoje em dia há muitos campeonatos de várias categorias e isso pros jovens atletas é muito importante pois a vivência e a experiência que os jogos proporcionam para os jogadores é crucial para a carreira.
6. Você teve algum mentor ou ídolo que te inspirou ao longo do caminho? Como essa pessoa impactou sua trajetória?
Um mentor que me ajudou no começo foi o Evandro, ele sempre me manteve com os pés no chão, principalmente no começo, me ajudando a entender que o basquete primeiro de tudo era pra me ajudar a ser um bom Cidadão e pessoa e que o lado profissional poderia acontecer se eu me dedicasse e aproveitasse as oportunidades que surgissem. E um ídolo que sempre me espelhei foi o Guilherme Giovannoni, tive o privilégio de treinar com ele, então sempre busquei aprender muito com ele, a ética de trabalho, como entender o jogo, isso impactou muito a minha trajetória até aqui.
7. Qual foi a sensação de receber a oportunidade de jogar na liga de basquete da Argentina? O que isso representa para você?
A sensação no começo foi de um pouco de medo eu acho, era a primeira vez indo morar sozinho, em outro país, sem saber nada de espanhol. Mas depois fiquei muito feliz pois era uma grande oportunidade, para aprender uma nova cultura, uma nova maneira de jogar basquete, e a partir do momento que cheguei na Argentina só pensei em treinar e absorver o máximo de conhecimento possível.
8. Tem alguma diferença que você percebe entre o basquete jogado aqui no Brasil e na Argentina? O que mais te impressionou?
O basquete argentino na minha opinião é mais coletivo, mais rápido e mais dinâmico. O que mais me impressionou quando cheguei foi a forma como o basquete é vivido no país, aqui tem muitos clubes formadores de atletas, muitos clubes que investem no esporte. O país tem uma cultura muito forte no basquete e isso reflete basquete no campeonato, onde os atletas chegam no profissional com muito mais experiência.
9. Como você se sente ao representar Samambaia e o Brasil em um cenário internacional? O que você espera alcançar nessa nova fase da sua carreira?
Eu me sinto feliz, aqui na Argentina na primeira vez que vim fiquei por 5 temporadas, pude aprender muito, conhecer uma maneira de jogar que eu gosto bastante e nessa fase da minha carreira eu espero aproveitar tudo que o esporte pode me oferecer, quero continuar evoluindo, conhecendo outros países através do basquete.
10. Se você pudesse deixar uma mensagem para os jovens que sonham em seguir seus passos, qual seria?
Primeiro tem que entender que ser atleta de basquete no Brasil e ainda mais em Brasília é algo muito difícil, então primeiro buscar aproveitar o esporte e o que ele proporciona o máximo possível principalmente quando se é mais jovem. Depois se dedicar bastante aos treinos, alimentação, estudos, a parte mental é muito importante também, para que quando surja uma oportunidade o atleta possa está preparado para ela.
11. Quais são seus planos para o futuro? Você pensa em voltar a Samambaia para ajudar a desenvolver o basquete na sua cidade?
Tenho um grande sonho de no futuro desenvolver o basquete em samambaia de alguma maneira, hoje meu grande amigo Edilton vem fazendo um grande trabalho, onde ele junto com os atletas estão desenvolvendo o basquete na cidade sem nenhum ou muito pouco investimento do governo. Então eu sempre quando estou pela cidade busco comparecer aos campeonatos que ele realiza para promover o esporte, busco ir no CID, manter contato com os jovens. Então pro futuro eu quero poder ajudar de alguma maneira que o basquete continue ajudando os jovens assim como me ajudou anos atrás.