Por mais que pese no bolso, o que pesa mais é o risco à saúde, e em Samambaia, o preço baixo anda saindo caro demais.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) deu um ultimato ao Supermercado Tatico: ou toma providências urgentes de higiene e segurança alimentar, ou fecha as portas. A decisão, publicada na última quinta-feira (12/6), é consequência direta de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do DF (MPDFT), motivada por uma série de denúncias e fiscalizações que escancararam o descaso da rede com a saúde dos consumidores.
A ordem atinge todas as unidades do grupo no DF e Entorno, mas é impossível não voltar os olhos, e o nariz, especialmente para a loja de Samambaia. O local se tornou símbolo do caos sanitário que assombra os corredores do Tatico: ratos e pombos circulando livremente entre prateleiras de alimentos, enquanto consumidores distraídos seguem suas compras entre baratas e cheiro de mofo.
Mesmo assim, há quem defenda o supermercado com unhas e dentes nas redes sociais e grupos de WhatsApp. O argumento é sempre o mesmo: “lá é mais barato”. Como se saúde fosse luxo. Como se fosse normal empurrar o carrinho desviando de fezes de rato porque o arroz tá R$ 2 mais em conta. O problema é que o que se economiza na gôndola pode custar caro depois, no médico.
Segundo o MPDFT, entre 2023 e 2024, a Vigilância Sanitária e o Procon detectaram uma coleção de infrações graves: alimentos vencidos à venda, prateleiras sujas, produtos armazenados em temperaturas inadequadas e até a ausência de um Manual de Boas Práticas, algo básico para qualquer estabelecimento que lide com alimentos. Isso sem contar a falta de limpeza em geral e os “hóspedes” indesejados: baratas, ratos e até pombos, com passe livre nas dependências do mercado.
A Justiça determinou que a rede realize desinfecção sanitária e reformas estruturais em até 10 dias. Também deverá retirar das prateleiras qualquer item com validade vencida, sem procedência, ou com alterações de cheiro, cor e textura. Caso não cumpra, a pena é o fechamento temporário da unidade infratora.
Mas não para por aí. O Tatico de Samambaia também foi condenado a indenizar um cliente que teve sua caminhonete furtada no estacionamento do mercado. O caso ocorreu em setembro de 2023, e segundo a decisão judicial, o grupo terá que pagar mais de R$ 25 mil entre danos materiais e morais. O furto, somado à total ausência de colaboração por parte da gerência, expôs mais uma vez o descaso com os direitos do consumidor.
O Tatico virou meme involuntário da precariedade e de uma população que, por falta de opção ou por costume, se submete a consumir em um ambiente que claramente fere as mínimas normas de higiene e respeito. Em Samambaia, o retrato é ainda mais gritante: o mercado onde o cliente precisa dividir espaço com ratos, pombos e produtos vencidos segue operando como se nada estivesse fora do normal.
Enquanto alguns insistem em justificar: “Pelo menos é barato”, outros se perguntam: até quando a economia no caixa vai valer mais que a dignidade no carrinho?